Quando o Coração Deseja o Que Deus Não Planejou

Expectativa e Frustração: Quando o Coração Deseja o Que Deus Não Planejou

A frustração é uma das experiências emocionais mais comuns da vida. Todos, em alguma medida, enfrentam o desapontamento de ver planos não concretizados, sonhos interrompidos ou desejos que não se cumprem.

O texto de Provérbios 13.12 nos indica a origem e descreve a frustração de forma até poética:

“Esperança adiada faz adoecer o coração; desejo cumprido é árvore de vida.”

Aquilo que eu esperava, desejava, não veio. E o coração adoeceu.

Mas, à luz das Escrituras, é importante perguntar: qual é a origem desses planos e expectativas? Foram inspirados por Deus ou nasceram apenas do coração humano?

Essa distinção é fundamental, pois grande parte da frustração que enfrentamos está diretamente ligada ao fato de estarmos projetando caminhos, decisões e desejos sem considerar a vontade de Deus. O resultado inevitável disso é a dor de ver tais planos barrados — não por acaso, mas porque o próprio Deus, em sua bondade, impede que andemos em direções que não foram traçadas por Ele.

A Frustração Que Nasce de Planos Humanos

Quando alimentamos expectativas fora da vontade divina nos colocamos no caminho da frustração.

Isaías nos lembra que a perspectiva divina transcende totalmente a nossa:

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.”(Isaías 55:8-9)

É por isso que confiar na nossa própria razão ou nos nossos planos naturais é receita certa para o desapontamento. Deus não está obrigado a abençoar aquilo que Ele não gerou. E por amor, Ele frustra aquilo que nasceu fora de Seu propósito.

O Caminho de Emaús: Quando as Expectativas Falham

Um exemplo bíblico eloquente dessa frustração pode ser observado no coração dos discípulos que caminhavam para Emaús (Lucas 24:13-32). Aqueles homens estavam profundamente abatidos porque suas expectativas quanto a Jesus não se cumpriram como imaginavam.

Eles dizem a Jesus, sem reconhecê-lo:

“Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel…” (Lucas 24:21)

Eles tinham expectativas políticas, imediatistas e humanas sobre o Messias. Queriam um libertador que se impusesse aos romanos, não um servo sofredor que fosse crucificado. Como suas esperanças estavam baseadas em uma compreensão limitada e equivocada do plano de Deus, a morte de Jesus os frustrou profundamente.

Jesus, com paciência, os repreende:

“— Como vocês são insensatos e demoram para crer em tudo o que os profetas disseram!” (v. 25)

E então lhes abre as Escrituras, mostrando que o caminho da cruz fazia parte do plano eterno de Deus.

A frustração daqueles discípulos foi fruto de uma expectativa formada sem alinhamento com as Escrituras. E a cura veio quando o entendimento foi iluminado pela verdade da Palavra.

Jonas: A Frustração de Quem Pensa Diferente de Deus

Outro exemplo é o profeta Jonas. Ele foi chamado por Deus para proclamar arrependimento a Nínive, uma cidade que aparentemente odiava. Sua vontade pessoal era a destruição daquele povo. Tanto que, após a conversão dos ninivitas, ele se aborrece e confessa:

“Agora, Senhor, peço que me tires a vida, porque para mim é melhor morrer do que viver.” (Jonas 4:3)

A frustração de Jonas revela um conflito entre o desejo pessoal e a vontade divina. Ele esperava um juízo; Deus decidiu conceder misericórdia. Como profeta, preferia ver sua palavra se cumprindo com a execução do juízo divino e não um desfecho de arrependimento, perdão e cancelamento do castigo. A fonte do seu desapontamento não foi uma promessa não cumprida, mas um desejo equivocado que Deus, em sua soberania, não atendeu.

Assim como Jonas, muitos de nós sofremos por não entender o coração de Deus e alimentar expectativas que não serão realizadas — pois Deus nunca se obriga a agir conforme nós pensamos que Ele deva agir. Frustrações assim são um alerta para que voltemos ao centro da vontade do Pai e, principalmente, para que tenhamos nosso coração moldado ao coração de Jesus.

Esperança no Lugar Certo

A Palavra de Deus nos oferece um caminho seguro: colocar nossa esperança no Senhor e não nos nossos próprios desejos. Provérbios 23:17-18 nos orienta:

“Não tenha inveja dos pecadores;pelo contrário, persevere no temor do Senhor todo tempo.Porque certamente haverá um futuro, e a sua esperança não será frustrada.”

Esse “bom futuro” não é fruto do que projetamos, mas do que Deus constrói em nós. Quando buscamos o Senhor em temor e submissão, Ele planta em nosso coração desejos compatíveis com sua vontade. E tais desejos jamais serão frustrados.

O apóstolo Paulo nos aponta, em Romanos 15:12-13, para a fonte verdadeira da esperança:

“Também Isaías diz:

“Virá a raiz de Jessé,aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão. E o Deus da esperança encha vocês de toda alegria e paz na fé que vocês têm, para que sejam ricos  de esperança no poder do Espírito Santo.”

A frustração dá lugar à paz quando a esperança é transferida do nosso querer para a vontade soberana de Deus.

Conclusão

A frustração não é apenas o resultado de circunstâncias desfavoráveis, mas muitas vezes é a consequência de termos colocado nossas esperanças em planos concebidos por uma mente natural, ainda não transformada pela verdade de Deus. Expectativas nascidas da carne, da emoção ou da vontade própria inevitavelmente colidirão com os caminhos mais altos do Senhor.

O antídoto não está em insistir com Deus para que Ele abençoe nossos projetos, mas em permitir que Ele transforme nossa maneira de pensar, desejar e decidir. Por isso, o apóstolo Paulo nos faz um apelo profundo e urgente:

“Portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, peço que ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o culto racional de vocês. E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:1-2)

Esse é o chamado para cada discípulo de Cristo: renunciar o controle da própria vida e submeter cada desejo ao crivo da vontade divina. Só assim deixaremos de andar movidos por expectativas humanas e passaremos a viver pela esperança viva que nasce do Espírito.

Quando entregamos nossos corpos — e, por extensão, nossos planos, metas e sonhos — como sacrifício vivo, o Espírito Santo reordena nossas afeições. Ele nos conduz não a uma vida de desilusão, mas à experiência concreta da vontade de Deus — boa, agradável e perfeita.

Em lugar de frustrações recorrentes, passamos a desfrutar de uma esperança que não engana, porque não está firmada no que desejamos, mas no que Deus deseja para nós. E nesse lugar, há paz, propósito e alegria abundante.

Luís Carlos Teixeira da Silveira, discípulo de Jesus, casado com Débora, pai de Melissa, Luísa e Helena. Responsável pelo Trabalho com as Crianças, congrega e coopera na Igreja em Porto Alegre.

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